O armário
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É um armário largo, esculpido; o carvalho escuro,
Muito antigo, tem este ar bondoso das velhas gentes;
O armário está aberto, e sua sombra derrama obscuro
Como onda de vinho velho, perfumes atraentes;
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Está cheio, é uma bagunça de velhas velharias,
De roupas cheirosas e amarelas, de trapos...
De mulheres ou crianças, desbotadas rendarias
Chales da avó pintados com grifos, guardanapos;
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— É nele que se acharia medalhões, cachos
De cabelos brancos ou loiros, retratos, penachos
Cujo perfume se mistura a perfumes de frutas.
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— Ó armário dos velhos tempos, tu sabes de muitas lutas,
E querias contar histórias, e ranges feito gavetas
Quando se abrem lentamente tuas grandes portas pretas.
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Arthur Rimbaud
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